quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A saga do jacaré


Ilustração: Carol Cuquetto oamareloeonada

Domingo, 14 de dezembro, faltando 11 dias para o natal. Onde é que fui me meter...Uma pessoa em sã consciência NUNCA, eu digo NUNCA passaria em frente ao “um shopping em Vitória” (jornal style mode on). Mas isso é sério. Uma pessoa normal preferiria ir ao apart hospital, na serra, do que levar a mãe moribunda em qualquer hospital perto desse “shopping em Vitória”.

Eu gostaria muito de falar que foi o meu espírito Hunter S. Thompson que me levou a passar por essa experiência quase lisérgica para falar com realismo sobre coisas bizarras no blog...Mas não, fui atrás do jacaré.

Domingo de tarde: nada melhor a fazer do que se enfiar debaixo das cobertas no frio do ar condicionado e ficar trocando juras de amor com o pé enrolado no pé do namorido. Ah sim, curando ressaca, claro. Mas neste domingo, excepcionalmente, o namorido foi pro baile funk, e me deixou no frio dos lençóis – buá. Para me consolar, peguei meu 13º familiar e, titubeando (vocês não adoram esta palavra?) peguei o carro e fui em direção à praia do Suá.

O objetivo:

1 - Coisas bonitas;
2 – Uma camisa da Lacoste pro meu Daddy melhor do mundo;
3 – Uma blusinha Lacoste pra mim (rá)

Quase chegando ao destino, tive vontade de virar e voltar pela contramão mesmo. Uma fila de carros, daquelas em que você fica 30 minutos parada, esperava para entrar no estacionamento do shopping. Já era tarde, eu estava no meio da bagunça. Como sempre, fui em direção ao estacionamento do cinema, que costuma ser mais tranqüilo. A cena era caótica: carros estacionados na grama, em cima do canteiro, em vagas de deficientes, em cima de deficientes, em fila dupla (?????)... Acho que na hora que eu entrei, Jah teve pena de mim, e escondeu um lugarzinho estratégico atrás do Cinemark, ufa! Desci do carro e fui levada pela multidão até a entrada do shopping, onde algumas pessoas jaziam batendo fotos ao lado da maquete do Shopping Vitória.

Segui para a parte mais nova do shopping, porque me recuso a passear pela velha, ainda mais nessa época. Uma fila I-M-E-N-S-A esperava em frente a Imaginarium. Pensei eu: “será dia de pagamento?”, mas não...Olhei direito e a fila (sério, devia ter umas 50 pessoas sem contar crianças) era para pegar uma casquinha do McDonalds naquele quiosque perto da Riachuello. Cara, o que tem naquela casquinha? Não é possível...

Bom, continuei meu caminho, desviando de uma arvore de natal e outra, uma criança com pose pra foto e outra, uma família inteira com caixas e mais caixas das lojas americanas, os emos da escada rolante e finalmente cheguei na Zara, minha segunda casa. Olhei aqui e lá, não vi nada que eu já não tivesse provado, exceto por uma gravata fina preta com bolinhas brancas, perfeita para meu namorido ausente ir ao casamento dos Rafas no sábado. Já na sessão teen, a história era outra: achei uma calça o jeitinho que eu estava procurando. Preta, sem absolutamente nada cagando o estilo basic. Fiquei tão feliz que acabei comprando mais um tomara-que-caia navy e uma blusinha preta “everydaybasics” para os dias de tpm. Ao sair, apenas o caixa infantil estava funcionando. Fiquei esperando duas moças lerdas e entreguei meu pequeno tesourinho. Ao passar os produtos, vi algo errado no visor do caixa: a gravata, cujo preço estava descrito como R$ 89,90, tinha entrado como R$99,90. Engoli o “foda-se quero ir embora daqui” e pedi gentilmente que a moça corrigisse o erro, retirando meus preciosos 10 reais. Alguns minutos depois ela voltou e desculpou-se pelo ocorrido. Fui embora feliz e contente, mas infelizmente com um pé atrás com a minha segunda casa.

Resolvi passar na praça de alimentação para fazer um lanche antes de continuar minha saga. Procurei o melhor lugar (por isso entenda-se mais vazio) peguei minha comideenha e fui sentar. Rodei, rodei, rodei...Nada de mesa. E tabule não se come com as mãos. Me fodi. Andei, andei, andei e finalmente consegui uma mesa e minutos depois, com muita luta, uma cadeira.

Fiquei comendo e observando as pessoas no lugar. Os shoppings me parece que viraram uma espécie de sociedade alternativa de concreto com ar refrigerado. Reunião de tribos, raças, classes sociais – e nem sempre para consumo. Fiquei reparando as lojas vazias e as mesas cheias. Pensei por um momento que ninguém estava ali para comprar, mas para ver as decorações de natal, encontrar os amigos e curtir a temperatura amena. Ah ta, para tirar fotos também. Joguei minhas coisas no lixo e segui para a Lacoste. Lá eu faria minha redenção. Lá eu iria encontrar o motivo pela ida tão suada ao shopping no domingo...

A multidão vai se aglomerando, mais, mais mais mais. É impossível passar. No meio das pessoas, um monte de algodão branco empurra crianças que esperavam para serem fotografadas no colo do bom velhinho. Uma noiva neurótica passa à frente de famílias e famílias para realizar o sonho de ter no álbum de casamento, uma foto com o Papai Noel. Não é lindo?

Eu, quase que movida pelo vacum, passo pela Lacoste e vejo meu objeto de desejo – “ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh” (anjos murmurrando): A pólo co listras coloridas para o pê-a-pai e a camisa listrada de vermelho e branco para moi! A loja permanecia vazia. Acho que as pessoas tem medo de jacaré. Comprei meus dois achados e fui embora feliz e contente, alguns reais mais pobre. Passei de olhos fechados por todos os seres do “espaço shoppiniano” até chegar guichê de estacionamento vazio. Claro...Quem ia querer sair dali?

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom! hahaha

cuidado onde vc estaciona, heim?!

bjocas e até colata!

Anônimo disse...

De molho em casa mais uma vez, dessa vez por causa de uma gastroenterite, farei alguns comentarios bem inuteis:

1 - Por aqui as coisas sao um pouquinho piores. Alem dos nativos franceses, tem beaucoup de touristes fazendo compras tambem. Ou seja, aqui a populacao deve ser triplicada e elevada ao quadarado. Mais, voila, fazer compras aqui é um luxo, rs.

2 - Tanto a casquinha como qualquer coisa proveniente do Mc Donalds é coisa do demonio, assim como o sexo, as drogas e o rocknroll. Por isso que é bom!

3 - Zara aqui é muito barato. Mas é muito palha! Saudades da Zara desse shopping ai em Vitoria... (mesmo assim ja estou na moda pro inverno que vem, comprei um casaco xadrez muito bacana)

4 - Noiva + papai noel?

5 - O jacaré aqui custa caro pra cacete

6 - Pelo menos ai nao tem atentado terrorista da Al Qaeda nas lojas Em Paris teve um semana passada, nas Galeries Lafayette.